Recentemente o Papa Francisco convocou um ano dedicado a São José por ocasião dos 150 anos do decreto Quemadmodum Deus, com o qual São José foi proclamado Patrono da Igreja Católica. Na ocasião da proclamação em 1870, o decreto recordou que a Igreja sempre teve o glorioso patriarca em alta honra e glória, sempre o invocando em tempos difíceis. Em 2021, outra vez o mundo e a Igreja passavam por dificuldades, enfrentando diversos desafios. Com o ano jubilar, o Papa Francisco quis renovar e reacender a confiança do povo católico em São José e pedir sua proteção na tribulação do tempo presente.
Mas, o que nos diz a Escritura, os Papas, os santos a respeito de São José? Quem foi o homem a quem o Filho de Deus obedeceu na terra? Por que depositar nele tanta confiança?
A Escritura nos fornece poucas informações sobre São José. Porém, o pouco que fornece diz tudo. Ele recebe o título de justo, descende de Davi, é esposo de Maria Santíssima e reconhecido como pai de Nosso Senhor. Protegeu o menino Deus dos perigos que o ameaçavam, foi alívio e consolo para Jesus e Maria no exílio, e os sustentou com o trabalho de carpinteiro, tendo no segredo do lar uma vida modesta em Nazaré. Não se sabe ao certo quando ocorreu sua morte, mas supõe-se que foi antes do início da vida pública de Jesus, antes dos anos 30 d.C., aproximadamente. Foi a este santo carpinteiro que Deus enriqueceu de especiais virtudes para ser o pai putativo de Seu Filho e protetor da família de Nazaré.
Quando a Escritura identifica José como “justo” (cf. Mt 1,19), ela quer indicar a santidade com que ele viveu sua vida, alguém cuja vida estava inteiramente ordenada a Deus e, na interpretação dos Padres da Igreja, alguém que possuiu em máximo grau todas as virtudes.
De José que Nosso Senhor recebe, segundo o direito, o título e herança de Filho de David; embora Maria Santíssima também fosse da casa de Davi. A genealogia de Mateus (cf. 1,1-17) remonta a Abraão para indicar que a promessa divina feita a Abraão e a Davi se cumpre plenamente em Jesus. São Lucas (cf. 3, 21-38) também apresenta Jesus como filho de José, todavia vai além e remonta ao próprio Deus com uma genealogia ascendente, do batismo no Jordão até Adão, para indicar que pelo batismo todos os homens se tornam filhos do Altíssimo. José é pai do Filho de Deus e todos são filhos de Deus por meio de Jesus.
Entretanto, deve-se ter com clareza em que sentido José e pai de Jesus. José é verdadeiro e legitimo pai de Jesus porque é verdadeiro e legitimo esposo da Virgem Maria. Jesus não é fruto da união castíssima de Maria e José, mas é filho de José porque José está unido a Nossa Senhora pelo matrimônio. A encarnação do Verbo se deu sem concurso de homem; assim foi profetizado e assim se fez: Eis que a virgem ficará grávida e dará à luz um filho… (Mt 1,23); Conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus… Maria, então, perguntou ao anjo: “como acontecerá isso, se não conheço homem algum?” O anjo respondeu: “O Espírito do Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é santo e será chamado Filho de Deus. (Lc 1, 31-35).
São José foi legitimo pai de Jesus e o amou efetivamente como um pai; amava-o simultaneamente como a Deus e como a um filho: […] como a Deus amava-O como santo, como o maior de todos os santos; como a filho amava-O como pai e como pai mais amoroso (Pe. Eusébio Villanueva). Este amor paternal de José era sinal constante do amor do Eterno Pai. Quão bem-aventurado foi o glorioso São José! Não há honra maior que ser chamado Pai de Jesus! E Nosso Senhor o amava e obedecia como tal (cf. Lc 2,51).
O Leão XIII, na encíclica Quamquam pluries, afirma que a grandeza, graça, santidade e glória de São José advém dessas duas fontes: o fato de ser pai putativo de Jesus e esposo da Virgem Maria. Na casa de Nazaré José era o chefe da Sagrada Família. No entanto era o menor membro dela. Mesmo assim Deus o elegeu como administrador de seus dois bens mais preciosos, tal como o faraó concedeu a José, filho de Jacó, o poder sobre os bens do Egito. Por esta razão, São José também está destinado a atender a Santa Igreja em suas necessidades, uma vez que guarda Jesus e Maria. Ou seja, como foi o protetor da família de Deus, agora no céu, continua a proteger os novos filhos de Deus.
Além de proteger a nova família de Deus, São José têm muito a ensinar, tal como ensinou o menino Jesus. De fato, não há na Escritura nenhuma fala registrada; seu modo de ensinar está a ação. A primeira coisa que ensina é confiança em Deus, como no caso em que queria dispensar Nossa Senhora em segredo; todavia, bastou o anjo aparecer em sonho para desistir da ideia (cf. Mt 1, 18-23). Com isso também ensina a discernir a voz de Deus. Deus se comunica por meio de sonhos (cf. Mt 1, 20; 2, 13. 19), quando os sentidos estão suspensos, indicando que para ouvir a voz divina é necessário se afastar de todas as distrações sensíveis. Na escola de São José aprendemos o silêncio contemplativo, alegria de sua vida era estar em constante companhia de Jesus e Maria. Mas também é escola da ação porque não aguardava intervalos para cumprir a vontade de Deus.
Por fim, com José aprendemos a amar a Deus e a Nossa Senhora. Pode-se dizer que em nenhum outro lar, senão na particularidade da casa de Nazaré, encontrou-se uma comunhão mais perfeita no amor. Quanto mistério encerra a casa de Nazaré onde Deus escondeu seus dois maiores tesouros sob a proteção de José! “Também aqui, e sem sair daqui, faz o compasso um círculo maior que o mundo. Todo o mundo habitado não igualava a grandeza, que dentro daquelas quatro paredes tão estreitas estava encerrada. Aquela pequena família, de que José era cabeça, compunha-se de duas partes tão imensas, que uma era o filho de Deus, outra a Mãe de Deus; e se esta era a majestade do corpo, qual seria a dignidade da cabeça? O Padre, o Filho e o Espírito Santo são a Trindade do céu; Jesus, Maria e José são a Trindade da terra. Mas na Trindade do céu nenhuma pessoa manda, nem obedece, porque não há nem pode haver entre elas sujeição ou império. Na terra, porém, com assombro das jerarquias, uma manda, e duas obedecem; e, sendo Jesus e Maria as que obedecem, José é o que manda e governa.” (Pe. Antônio Vieira).
São José foi agraciado com a melhor das vidas e com a melhor das mortes: viveu sua vida em total dedicação a Nosso Senhor e a Nossa Senhora e morreu ladeado de incomparável companhia. Além de protetor da Sagrada Família, Patrono da
Igreja, ele também é o padroeiro da boa morte. Que São José nos ensine as virtudes que agradam a Deus, interceda por todas as necessidades da Igreja e conceda a todos os filhos de Deus uma santa morte.
São José, Valei-nos!
Arthur Cristo da Silva
Seminarista
Secretaria